sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

13 de Janeiro de 2009

DA LANTERNA MÁGICA
AO CINEMA



“Assim como a América existia antes de Cristóvão Colombo,
o cinema existia antes de todos os seus inventores”.
Henri Langlois,
fundador da Cinemateca Francesa,
numa aula na Universidade de Nanterre.

Esta sessão propõe um percurso que vai das imagens em movimento anteriores ao cinema (o “pré-cinema”) ao cinema propriamente dito, passando pelos seus primórdios. A frase de Henri Langlois citada em epígrafe destina-se a ilustrar o facto que, muito antes da invenção do cinema propriamente dito (atribuída por justificado consenso aos irmãos Auguste e Louis Lumière, embora eles não tenham sido os únicos), tentou-se criar imagens em movimento ou decompor o movimento através da fotografia.

A Lanterna Mágica consiste num sistema de placas de vidro pintadas, cujas imagens são ampliadas por um sistema de lentes e projectadas através de um feixe de luz, como os diapositivos. Trata-se de um dos precursores mais importantes do cinema, na medida em que as imagens eram projectadas numa sala às escuras, numa experiência colectiva. O primeiro filme que vamos ver explica de modo didáctico o que é a Lanterna Mágica, como indica o seu título, Die Geschichte der Zauberlantern (“A História da Lanterna Mágica”).

A fotografia data da década de 1830. Quando o cinema foi inventado, cerca de sessenta anos depois, a técnica fotográfica estava extremamente desenvolvida e o cinema foi, de certa forma, uma extensão da fotografia, com o acréscimo do movimento. O cinema baseia-se numa ilusão de óptica, pois o que vemos, na verdade, é uma série de imagens paradas, projectadas a uma velocidade tal (24 fotogramas por segundo) que o espectador tem a ilusão de que estão em movimento. Em meados dos anos 1890, o grande inventor americano Thomas Edison, ligado entre outras coisas à invenção da lâmpada eléctrica e do fonógrafo (gravação do som), fazia filmes, ou seja, imagens fotográficas em movimento, gravadas num rolo, com o seu Kinestocópio. Mas estas imagens deviam ser vistas numa caixa de madeira, através de uma lente, por uma pessoa de cada vez. O golpe de génio dos irmãos Lumière, cujas pesquisas eram paralelas às de Edison e tão adiantadas como as dele, foi o de projectar estas imagens numa tela, numa sala às escuras. Logo depois da primeira sessão pública de cinema, em 28 de Dezembro de 1895, os Lumière, nome que por uma feliz coincidência significa luz, formaram e despacharam operadores a vários países do mundo, onde captavam vues (vistas) de cidades ou das populações. Mas os Lumière também fizeram home movies, cenas cómicas e cenas reconstituídas da vida real. O segundo filme do programa, La Première Séance (“A Primeira Sessão”), feito por ocasião do centenário do cinema, reconstitui exactamente o programa da primeira sessão pública de cinema no mundo.


Com os Lumière o cinema nasceu sob o signo do realismo, mas a vertente fantástica do cinema não tardaria a surgir, também em França, com o genial Georges Méliès. Mestre dos truques e da prestidigitação, inventor dos efeitos especiais, Méliès transpôs este universo para o cinema, ainda no século XIX, em filmes repletos de humor, em que as pessoas podiam aparecer, desaparecer, voar, ir à Lua ou ao fundo dos oceanos. Dele veremos Cendrillon, uma versão da Gata Borralheira, que em Portugal se intitulou Baile Até à Meia-Noite, seguido por dois filmes do seu imitador, o espanhol Segundo de Chomón, que trabalhou em Paris, Excursion Dans la Lune (Viagem à Lua) e “Mágica Bruxa”.

Para o filme de Méliès e os dois de Segundo de Chomón, haverá música ao vivo, ao piano, por Catherine Morisseau.

Em 1914, dois anos depois de Georges Méliès ser levado à falência pelo facto dos seus filmes serem pirateados (como se vê, este problema não é de hoje), Charles Chaplin, o Charlot, começa a fazer cinema, prolongando as tradições do circo e do music hall. Em pouquíssimo tempo, Chaplin fez progressos artísticos fenomenais. Em 1916, realiza a obra-prima que vai fechar esta sessão, One A.M. (em Portugal, Charlot Boémio), não no papel do vagabundo que o celebrizou, mas no de um burguês que volta bêbado para casa. Sozinho em cena durante praticamente todo o filme, Chaplin mostra a perfeição a que chegara o cinema nos seus primeiros vinte anos.

DIE GESCHICHTE DER ZAUBERLANTERN (“A História da Lanterna Mágica”)
de Ivan Steiger- Alemanha, 1984
Realização: Ivan Steiger / Animação: Viki Holoubek / Escolha musical: Jiri Kanzelsberger e Werner Kofahl / Montagem: Liuliana Lorenc / Som: Milan Bor / Produção: ZFF / Cópia: da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 35 mm, dobrado em português do Brasil / Duração: 31 minutos.

LA PREMIÈRE SÉANCE (“A Primeira Sessão”) - França, 1895/1995
de Louis e Auguste Lumière
e Philippe Truffault
Realização: Philippe Truffault, contendo a íntegra do primeiro programa do Cinematógrafo Lumière, exibido no Salon Indien do Grand Café, em Paris, a 28 de Dezembro de 1895: Sortie des Usines Lumière à Lyon (“Saída da Fábrica Lumière, em Lyon”); La Voltige (“A Cambalhota”); La Pêche aux Poissons Rouges (“A Pesca dos Peixinhos Vermelhos”); Le Débarquement du Congrès de Photographie à Lyon (“O Desembarque do Congresso de Fotografia, em Lyon”); Les Forgerons (“Os Ferreiros”); Le Jardinier (“O Jardineiro”); Le Repas (“A Refeição”); Le Saut à la Couverture (“Saltar com a Manta”); La Place des Cordeliers à Lyon (“A Place des Cordeliers, em Lyon”); La Mer (“O Mar”) / Narração: Michel Piccoli
Produção: Acme Films e Well Well, para a Association les Frères Lumière / Cópia: da Cinemateca Portuguesa, 35mm, preto & branco e cor, versão original em francês sem legendas / Duração: 12 minutos / Inédito comercialmente em Portugal.

CENDRILLON (Baile Até à Meia-Noite) - França, 1899
de Georges Meliès
Realização, Argumento e Produção: Georges Méliès / Produção: Star Films (Paris) / Cópia: da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 35 mm, com tintagens / Duração: 5 minutos, a 16 imagens por segundo.
Música ao vivo por Catherine Morisseau

EXCURSION DANS LA LUNE (Viagem à Lua) - França, 1908
de Segundo de Chomón

Realização: Segundo de Chomón, com supervisão de Ferdinand Zecca / Produção: Pathé (Paris) / Cópia: da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 35 mm, colorida (pochoir), muda, com intertítulos em português / Duração: 7 minutos a 16 imagens por segundo.
Música ao vivo por Catherine Morisseau

“MÁGICA BRUXA” - França, 1908
de Segundo de Chomón

Realização: Segundo de Chomón / Produção: Pathé (Paris) / Cópia: da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 35 mm, colorida (pochoir), muda, com intertítulos em português / Duração: 4 minutos a 16 imagens por segundo.
Música ao vivo por Catherine Morisseau

ONE A.M. (Charlot Boémio) - EUA, 1916
de Charles Chaplin

Realização e Argumento: Charles Chaplin / Cenários: E. T. Mazy / Interpretação: Charles Chaplin (o boémio), Albert Austin (o motorista de táxi).
Produção: Lone Star Mutual / Cópia: da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 35 mm, com intertítulos em português, musicada / Duração: 17 minutos, a 16 imagens por segundo / Estreia Mundial: 7 de Agosto de 1916.

“Folha da Cinemateca Portuguesa”

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