terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Circo, de Charlie Chaplin


Realização, Argumento, Montagem e Música: (esta última, composta e gravada em 1968): Charles Chaplin / Fotografia: Roland Totheroh / Assistente de realização: Harry Crocker / Assistente de Fotografia: Jack Wilson e Mark Marlatt / Direcção Artística e Cenários: Charles D. Hall / Assistente para a versão musicada: Eric Rogers / Direcção Musical: Eric James / Canção (composta para a versão musicada): “Swing, Little Girl”, música, letra e interpretação de Charles Chaplin / Interpretação: Charles Chaplin (O Vagabundo), Merna Kennedy (a Amazona), Harry Crocker (Rex, o equilibrista), Allan Garcia (o dono do circo), Henry Bergman (o velho palhaço), Stanley Sanford (o chefe da “troupe”), George Davis (o mágico), Betty Morrisey (a Mulher que desaparece), John Rand (um palhaço), Armand Triller (outro palhaço), Steve Murphy (o carteirista), Bill Knight (o polícia), Jack Pierce (o Homem que mexe as cordas), etc.

Produção: Charles Chaplin para a UNITED ARTISTS / Início das Filmagens: 11 de Janeiro de 1926 / Interrupção da produção: 5 de Dezembro de 1926 a 3 de Setembro de 1927 / Fim das Filmagens: 19 de Novembro de 1927 / Estreia Mundial: Strand Theatre, Nova Iorque, a 6 de Janeiro de 1928 / Estreia em Portugal: Cinema Tivoli, a 14 de Janeiro de 1929 / Metragem Original: 1980 metros / Metragem da versão musicada: 1960 metros / Duração: 70 minutos / Estreia da versão musicada: 1968 / Estreia da versão musicada em Portugal: Cinema Roma, 18 de Dezembro de 1969.


Se perguntarem a quem viu todos os filmes de Charlot qual é o melhor, as respostas variam, mas circunscrevem-se geralmente a três: «A Quimera do Ouro», «Luzes da Cidade» e «Tempos Modernos». «O Circo» fica, geralmente, esquecido. E contudo, como vão verificar, talvez seja este o filme mais «perfeito» desse grande mestre do circo e da pantomina que foi Charles Chaplin, que conhecemos mais com o nome de Charlot.

Porquê o mais perfeito? Por um lado pela forma como está contado, centrando-se quase inteiramente num único espaço, o circo, formando uma unidade de tempo e de lugar, e contando uma história de forma linear, sem interrupções ou desvios para outros temas. Por outro lado, pelo tema, que é o do circo, que ele só voltará a homenagear no famoso número das pulgas amestradas no palco de um teatro de variedades em «Luzes da Ribalta» (mas este filme é já um filme de Chaplin e não de Charlot).

Como sempre, em todos os seus filmes, o trabalho de Chaplin como realizador é de um perfeccionismo quase excessivo. Para tudo poder controlar, e dar o máximo de autenticidade à história, Chaplin criou e manteve durante quase um ano um autêntico circo: tenda, equipamento, vagões, um pequeno zoo, treinadores e tudo o que o constitui, construindo também latas plataformas a fim de poder filmar as cenas de equilibrismo no arame. Aliás, o próprio Chaplin treinou durante meses, o trabalho no arame, assim como a actriz, Madge Kennedy, o fez para o seu papel de acrobata a cavalo.

«O Circo» é, de certo modo, um regresso ao primitivo Charlot, que explora mais o humor e o burlesco do que fizera nas longas-metragens anteriores, «O Garoto de Charlot» e «A Quimera do Ouro». Talvez tenha sido a ausência de situações dramáticas que tenha desiludido alguns dos seus admiradores (as que se encontram, com o dono do circo maltratando a filha, que é a heroína, são breves e estão ali apenas para justificar a entrada de Charlot e o final, que corresponde à clássica conclusão das curtas-metragens de Charlot, com o vagabundo desaparecendo, sozinho, na estrada), o que explica que ele tenha voltado a explorá-las no filme seguinte, «Luzes da Cidade». Mas dentro do género «slapstick» (o cómico burlesco), «O Circo» é um dos seus melhores trabalhos, com números de antologia, desde o do começo, quando, acidentalmente, Charlot vai «revelando» ao público os truques do mágico, até culminar na fabulosa sequência do arame, com Charlot equilibrista, no que é um dos mais entusiasmantes e divertidos momentos de todo o seu cinema. É preciso ver para crer, com Charlot às voltas com os macacos que lhe saltam para cinema enquanto tenta equilibrar-se. Ou ainda a cena na jaula do leão.

Com a sua silhueta inconfundível, Charlot entra no filme, numa feira, junto do circo. Que está cheio de fome vê-se pela forma como tenta dar uma dentada num «cachorro» que um bebé, ao colo da mãe, tem nas mãos. Perseguido pela polícia, Charlot foge pela «casa das fantasias» (outra série de gags irresistíveis), irrompe pelo espectáculo circense e transforma o que era um fiasco num sucesso, acabando contratado pelo dono, apaixonado pela filha deste, que se apaixona, sim, mas por um novo atleta que surge depois, o que prepara para o típico final dos filmes de Charlot.

"Folha da Cinemateca Portuguesa"

Nenhum comentário:

Postar um comentário